segunda-feira, setembro 30, 2013

Luto

A educação do Rio de Janeiro está em crise há mais de 10 anos... Desde os primeiros projetos de "melhorar" o desempenho dos alunos com a aprovação automática até o total descaso atual, o abandono completo e irrestrito da instituição social das mais importantes: a escola, que em vez de tentar reinventá-la e melhorá-la com métodos psicopedagógicos que se aproximem da realidade dos alunos (ver Paulo Freire e Darcy Ribeiro) há uma depredação, estilhaçamento, destruição da educação de uma forma geral, apenas colocando a escola num lugar de produtora de analfabetos "funcionais". Nem vou chegar a discutir esse termo... 

Venho acompanhando a luta dos professores e nunca pensei que ia chegar ao ponto de quando eles protestam LEGITIMAMENTE por seus direitos trabalhistas, ele, do alto do seu autoritarismo, manda - sim manda, porque a polícia recebe ordens do mais alto cargo do poder executivo, no caso o governador, já que a polícia é estadual [aliás, todo esse sistema hierárquico da polícia é ridículo, resquício dos anos de chumbo]- seus policiais expulsarem à força (com uso de armas "não letais") os professores do seu local de manifestação (não importa qual seja, é DIGNO)!! SERVIDORES PÚBLICOS ESPANCANDO SERVIDORES PÚBLICOS QUE UM DIA FORAM SEUS MESTRES!!

Me faltam palavras pra dizer o quanto isso é absurdo e covarde....
Por isso deixo a poesia falar um pouco por mim:

Luto

Queria estar de luto
por todas as desgraças do mundo
o descaso com o outro
o egoísmo imundo
que inunda os corredores do poder

Queria, mas não posso.

Queria estar de luto
em prantos...
No enterro desses ideais mesquinhos
e que os cântaros de lágrimas
lavassem a alma do país

Queria, mas não posso.

Há algo no meu coração
que não me deixa descansar

São anos caminhando...
Já com a armadura em frangalhos
os pés calejados
a alma escaldada
mas a cara sempre limpa, o olhar no horizonte
sem medo do próximo golpe da vida
(porque ele virá)

Eu queria... Bem que eu queria
ficar de luto.
Mas não posso desobedecer
a ordem que o coração me dá
Então eu luto.

Marlos Drumond

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